Avançar para o conteúdo principal

Da identificação projectiva: conceptualizações reassegurantes

O mecanismo de defesa denominado Identificação Projectiva é um dos conceitos mais controversos e complexos no âmbito da Psicanálise, referindo-se a um fenómeno de defesa psíquica (inconsciente) com um carácter mais interaccional ou interpessoal. A Identificação Projectiva não se trata da junção do mecanismo de Identificação com o de Projecção. A identificação reporta-se ao processo de construcção e transformação da personalidade por intermédio da assimilação e acomodação de características e experiências observadas nos outros (pais; figuras de referência; etc.). A Projecção refere-se à exteriorização e atribuição aos outros, de características nossas mas que inconscientemente nos são inaceitáveis (por exemplo, o adolescente que se torna homofóbico por não tolerar insconscientemente os seus impulsos homosexuais, que possam surgir no seu desenvolvimento psico-sexual em devir). Quanto à identificação Projectiva, ressalvando as extensas variantes das conceptualizações teóricas na literatura, trata-se de uma acção psíquica de um sujeito (o "projector"), o qual projecta sobre outro sujeito (o "receptor") características suas (dimensões da sua personalidade) sentidas como dolorosas e intolerantes, mas aqui surge um fenómeno revelador da específicidade deste mecanismo: o "receptor" reage emocionalmente à acção projectiva e "depositária" concretizada pelo "projector".

Na prática profissional com crianças e jovens em risco, tais movimentos são frequentíssimos entre os jovens e os profissionais, devendo existir sempre um processo de interacção a um nível inconsciente entre ambos, para se poder falar em identificação projectiva. Daí muitas vezes os profissionais reagirem aos jovens com raiva; medo; nojo; complacência exagerada; etc., sendo estas formas reveladoras de o receptor assumir características humanas que vão ao encontro daquelas que para ele lhe foram projectadas.

Como se pode actuar profissionalmente com isenção: análise constante das emoções; afectos e decisões que nos surgem face a cada jovem em particular, tentando descortinar o que nós sentimos do que o que os jovens nos fazem sentir e reagir. Daí a ideal necessidade de todos os profissionais destas áreas deverem ter os seus próprios processos psicoterapêuticos pessoais (conhecendo-me melhor, conheço melhor os outros) e, mais concretizável e acessível, o acesso à consultoria e supervisão, permitindo ter acesso a todos estes fenómenos de interacção insconscientes, bloqueadores dos processos de comunicação e interacção saudável.

A acrescer, existem ainda todos os fenómenos de comunicação insconsciente (onde surge também a identificação projectiva) que se processam dentro da dinâmica dos grupos (dos jovens e dos profissionais), potenciadores de movimentos psíquicos mais ou menos facilitadores ou limitadores da "higiene mental" da organização.

Existem coceptualizações que podem ser reassegurantes na nossa prática profissional...

NPF