Avançar para o conteúdo principal

Fechar uma porta.

Chegou ao fim a minha passagem pela Misericórdia de Santarém. Fecha-se uma porta, quase nove anos, de aprendizagem constante. Aprendi com todas crianças, jovens, famílias e colegas que diariamente me desafiaram a pensar e a conter uma panóplia quase infinita de emoções e “life events” difíceis de imaginar. Talvez a aprendizagem mais importante de todas ficou bem sintetizada esta semana quando ao encerrar a intervenção com uma família, numa reunião alargada com a CPCJ e a Família, a Ana (minha colega de sempre), encerrou o trabalho com um obrigado à família por nos ter deixado entrar na sua privacidade relacional e nos ter deixado ao longo de três meses aprender com eles, sobre o que é ser pai, mãe, filho e família.

O obrigado expresso pela Ana é o melhor exemplo de como com ela e com a nossa restante Equipa, Famílias e Crianças aprendemos a respeitar infinitamente todas as famílias, mesmo aquelas capazes de abusarem e negligenciarem os seus filhos.

Não pensem que respeitar infinitamente as famílias é sinónimo de afirmarmos que concordamos com tudo o que ocorre no seio das famílias e que aceitamos todos os comportamentos. Pelo contrário o respeito que fomos aprendendo a ter ajudou-nos, a distinguir e a diferenciar o que são comportamentos inaceitáveis de pessoas inaceitáveis. Um abuso físico violento não é um comportamento aceitável  em nenhuma situação por colocar uma criança em perigo emocional e físico. Mas qualquer pessoa independentemente do seu comportamento é mais do que as suas acções, é um ser humano com uma história que o contextualiza e que parcialmente o determina e que nesse sentido histórico, merece todo o respeito.

Aceitar as pessoas para além dos seus comportamentos (mesmo não aceitando os seus comportamentos) deixou de ser ao longo destes nove longos anos de aprendizagem, difícil de fazer. Por isso caros amigos, podem muito bem imaginar que não só aprendi imenso, como aprendi coisas dificílimas no trabalho diário de um Centro de Acolhimento Temporário e de um Lar de Infância Juventude.

Um OBRIGADO gigante a todos!!!!!

Pedro Vaz Santos