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II Congresso Internacional de Adopção "Família e adopção: A construçãoda identidade"


"À procura de uma história comum" foi o tema que juntou vários oradores portugueses e estrangeiros durante dois dias. Felizmente, três anos volvidos, a fórmula repete-se pela segunda vez. Com muita pena minha, este ano a fervorosa "época" dos encontros dedicados às crianças e jovens em risco - o mês de Novembro - vai passar-me ao lado (ainda não percebi bem porque todos os anos tendem a estar tão sobrepostos ao invés de melhor distribuídos ao longo do ano... talvez por ser o mês da celebração da Convenção dos Direitos da Criança), mas para quem possa participar, este é um daqueles congressos a que não se pode faltar!

Remexendo na memória e em algumas notas tiradas em 2008, encontro uma frase solta de uma letra do Sérgio Godinho citada pelo pediatra Mário Cordeiro (que renova a sua participação este ano):

"Já fizemos tanto e tão pouco
o que há-de ser de nós?" 

E assim, ao longo de dois intensos dias, falou-se do que se fez e de horizontes. Consequências da institucionalização, resiliência, serviços de adopção e pós-adopção, adopções abertas vs fechadas, adopção internacional, ... foram alguns dos temas discutidos.

O exemplo do lado. Talve pela proximidade cultural, despertou-me particular atenção a intervenção de Jesus Palácios (outra presença repetida no programa deste ano). Brincando com idiossincrasias ibéricas, começou a sua comunicação dizendo que em relação à adopção em Espanha, "como en todo en la vida, llegamos tarde pero llegamos corriendo!". Adiantando o que cada vez mais se torna óbvio para todos, isto é, que nenhuma proposta resolve bem uma problemática tão complexa como esta, apresentou o Modelo Necessidades-Capacidades, um modelo construído com profissionais de adopção, que orienta as várias fases do processo de intervenção. A ideia principal: o centro das intervenções deve ser as necessidades das crianças. Há então que procurar famílias que sejam capazes de responder a estas necessidades (avaliação), capacitá-las para responderem o melhor possível a estas necessidades (preparar), orientar o emparelhamento tendo em conta que uma família pode ser adequada para uma criança mas não para outra (matching), e avaliar passados 6 meses da chegada da criança à nova família. Muito completo.

Outra comunicação que me cativou foi a de Femmie Juffer. Uma professora e investigadora holandesa que nos trouxe um modelo de intervenção breve baseado em video-feedback (ver aqui o livro da autora sobre o tema), focado nas forças e nos momentos positivos da nova família.
Recordo que mencionou que o Governo do seu país foi aconselhado a tornar obrigatório o acompanhamento pós-adopção. Será que esta sugestão foi seguida? Se sim, com que resultados?
Um outro tema sensível abordado pela oradora em resposta a questões colocadas pela assistência, foi a da adopção por homossexuais. Para Femmie Juffer, "it's parenting that matters, not family structure per se".

Harold Grotevant foi quem mais me espantou. Deu-nos a conhecer a campanha norte-americana "AdoptUSkids" de angariação de famílias. Fotos e informação diversa sobre crianças e jovens à espera de uma família disponíveis online. Gostava de ter percebido melhor as implicações éticas desta estratégia...

Vários foram também os oradores e membros da plateia que mencionaram as barreiras burocráticas como um obstáculo ao sucesso das adopções. Sobre esta questão, terão ocorrido mudanças substanciais desde 2008?

E o que mais me tocou: as crianças devolvidas. Que avanços houve no nosso país desde o último congresso em relação a este premente assunto?

2011 promete. Algumas presenças repetidas da edição anterior. Novos oradores. Comunicações livres que podem ser submetidas até 15 de Outubro. É de explorar o site do congresso (clicar aqui).

No dia 13, os interessados poderão ainda assistir à projecção de "O Selo do Dragão", um documentário sobre irmãos oriundos de diferentes famílias biológicas que questiona o que é herdado, como se transmite e como se constrói a identidade numa nova família (ver o trailer aqui).

Não podendo participar fisicamente, resta-me (e certamente a muitos outros interessados) a esperança de que à semelhança do que tem acontecido com outros eventos, a Fundação Calouste Gulbenkian, local onde mais uma vez irá decorrer este congresso, disponibilize a transmissão directa online. As últimas transmisões têm corrido bem e são sem dúvida uma óptima forma de partilhar o conhecimento. Uma prática a manter!

ADC