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Os jovens não compreendem o que lhes dizemos...

Há dias encontrei mais um conto filosófico ao qual eu associo em analogia às necessárias técnicas e habilidades que os adultos podem utilizar, quando muitas vezes precisam de explicar algo aos jovens (crianças e adolescentes), e estes têm dificuldades em compreender a informação.

Muitas vezes estas dificuldades na compreensão na mensagem devem-se mais a dificuldades emocionais e afectivas, e não tanto a limitações cognitivas (sabemos cientificamente hoje em dia que está tudo inter-relacionado).

De uma maneira ou de outra, na minha perspectiva, estimular e activar as ligações na rede de ideias e conceitos próprios ao pensamento dos jovens fornece sempre melhores resultados na capacidade de compreensão dos mesmos, do que focalizarmos a intervenção (explicativa) numa só ideia.

Deixo-vos então o conto:

A forma da neve
Srulek, o Nasreddin ou o Gohâ polaco, chegou um dia junto de um cego e sentou-se a seu lado. O cego perguntou-lhe:
- Srulek, diz-me, a neve, como é?
- É branca - respondeu Srulek.
Passado um momento, voltou a perguntar:
- Branca, como?
- Branca - diz Srulek procurando as palavras - branca como leite.
Um pouco depois, perguntou:
- O leite, é como?
- O leite - diz Srulek - estás a ver, é como as aves que pousam no rio, tu sabes, os cisnes.
- Ah - diz o cego.
Um momento depois, perguntou a Srulek:
- Diz-me, como é um cisne?
- Bem, é uma ave grande, com asas grandes, um pescoço muito comprido e curvo, e um bico assim...- Srulek esticou o braço e curvou o punho para imitar o cisne. O cego estendeu a mão e apalpou o braço e a mão de Srulek, lentamente, atentamente, antes de dizer sorrindo:
- Ah, sim, agora vejo como é ela, a neve...


In "Tertúlia de Mentirosos" - Jean-Claude Carrière
NPF