A propósito do dom da palavra na facilitação das mudanças psicológicas e comportamentais dos jovens rapazes (dirigo-me por agora apenas a este género) , cujas vidas lhes deram razões para exprimir revolta, raiva e agressividade, gostaria de partilhar um breve parágrafo de um livro (in Criando Caim- Proteger a Vida Emocional dos Rapazes, de Dan Kindlon e Michael Thompson - 1999) que faz um delicioso eco para quem trabalha com rapazes:
"Sabemos até que ponto a facilidade de expressão melhora o controlo da impulsividade, tal como acontece com a compreensão das emoções, a consciência daquilo que sentimos e das razões que nos fazem sentir assim. Quando esta literacia está ausente, as emoções tendem a exprimir-se através do movimento ou acção. A dificuldade de expressão verbal, característica do desenvolvimento dos rapazes, combinada com a lei cultural de que não devem falar dos sentimentos, canaliza a energia emocional destas crianças para a acção. Quando os rapazes estão excitados e contentes, tornam-se barulhentos e activos: gritam, saltam, correm e empurram-se uns aos outros. Mas quando as emoções são dolorosas, uma corrida não basta. A energia física pode aliviar o stress, mas não elimina as suas causas e, por isso, a actividade física- quer seja fazer uma corrida, quer seja dar murros na parede- não é suficiente. Descarrega a energia que rodeia o sentimento, mas não o sentimento em si mesmo. Liberta vapor, mas não apaga a chama acesa sob a panela de pressão emocional".
A juntar a isto, qualquer perturbação emocional e do comportamento adicional nestes rapazes, reforça a necessidade de os pôr a falar. Tudo bons rapazes, desde que falem...
Nuno Francisco