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Crianças que não brincam na fantasia

Os acontecimentos recentes de violência envolvendo jovens no Porto são acima de tudo sintoma de uma política de protecção de infância pouco eficaz e desligada da saúde mental. Não basta pensar que dar um tecto, alimentação e permitir o acesso ao ensino básico a uma criança em risco chega para a proteger e levá-la a um bom desenvolvimento. É necessário um olhar mais técnico, pormenorizado, e que leve em conta o desenvolvimento e estruturação da personalidade da criança.
Qualquer criança em risco é uma criança que num determinado momento da sua vida viu o seu vínculo com os pais ameaçado ou quebrado. Viu igualmente a estabilidade da família ameaçada por histórias de abuso e negligência que sedimentam na criança a fantasia de que nenhum lugar é seguro. Estas crianças crescem a margem do amor e da segurança emocional, crescem sem conhecer um espaço onde se possa brincar aos polícias e ladrões, sem ninguém verdadeiramente morrer.

São estes os jovens que quando amontoados, aos 50 e 70, numa instituição de acolhimento, se perdem. Não se encontram enquanto pessoas adultas responsáveis com capacidade de reflectirem nos seus comportamentos. Permanecem imaturos, brincando aos polícias e ladrões, justiceiros de rua, com armas e pontapés de verdade.

Estas crianças não brincam na fantasia, brincam na realidade, e por isso magoam-se e magoam de verdade, lembrando que outrora alguém as feriu na fantasia.

PVS